Durante a semana, quando regresso ao trabalho depois de almoço (sim, porque sou uma sortuda que vive a cerca de 5 minutos a pé do local de trabalho, o que dá um jeitaço a vários níveis como, por exemplo, almoçar em casa, despreocupação total com estacionamento ou, o melhor de tudo para uma das maiores dorminhocas deste país, ficar na cama até ao último minuto possível), dizia eu, durante a semana, quando regresso ao trabalho depois de almoço, cruzo-me várias vezes com um casal de namorados bem novinhos (devem ter uns 17 anos) que se plantam na minha rua. Sim, porque a minha rua é pequenina, de um sentido apenas, onde passam pouquíssimos carros e com degraus à entrada das casas que quase pedem para nos sentarmos ali.
São um casal muito querido e, quando passo, normalmente estão aos beijinhos e abraços, num tom ingénuo e quase infantil, ou em conversas divertidas e descontraídas, típicas de quem está apaixonado e tem 17 anos.
A última vez que os vi o ambiente estava algo diferente. A miúda estava com um problema qualquer, não sei se sério ou não, com um semblante triste e preocupado. Estavam sentados nas escadas do costume, lado a lado, ela com a cabeça pousada no ombro dele, de olhar meio perdido, ele a abraçá-la enquanto, com a mão livre, lhe fazia festas no cabelo.
Achei a imagem tão ternurenta e sincera que, por momentos, essa mesma imagem me transportou aos meus 17 anos, tão verdadeiros e ingénuos e cheios de sonhos e amores correspondidos ou não, e senti um aperto pequenino de melancolia e saudade.
Aposto que a próxima vez que me cruzar com o jovem casal na minha rua eles vão estar a trocar beijinhos e risos e abraços enamorados e quase infantis.
Como nunca deveria deixar de ser.