Não faz muito tempo estrearam na televisão portuguesa dois reality shows de fazer chorar as pedras da calçada. Não vi e não tenho qualquer interesse em ver programas em que mulheres se oferecem para servirem de gado que vai a leilão, mas li sobre o assunto e isso basta para me sentir informada q.b.
No passado fim de semana estreou mais um programa do género – também não vi nem tenciono fazê-lo – em que, resumindo, anda tudo nu.
Quando ouvi falar deste último reality show, antes da estreia, pensei A sério? Será possível descer mais baixo? mas, ainda assim, fui à net tentar perceber o conceito e, eventualmente, reconhecer que estava a ser preconceituosa, desdenhando algo que não conheço.
Não precisei pesquisar muito para chegar às seguintes afirmações do diretor de antena da TVI:
Parece que nós vamos colocar as pessoas nuas e não é exatamente isso.
Claro que tem esse primeiro choque porque as pessoas vão estar, de facto, nuas, mas é muito mais do que isso.
Fiquei logo com a pulga atrás da orelha, mas mais descansada também, afinal há um propósito maior do que conquistar audiências à custa da estupidez do telespetador. Mas que propósito será esse?
Como a resposta do mesmo senhor não foi suficientemente esclarecedora - vão ficar despojadas de tudo e vão ter de decidir todos os dias aquilo que é mais essencial para a vida delas -, pesquisei um pouco mais, não sem antes ter pensado que o mais essencial à vida delas é vestirem-se, que ainda se constipam.
Fiquei então a saber que o programa coloca várias famílias – nuas - a viverem na mesma casa – vazia, com o intuito de promover um estilo de vida menos consumista e materialista.
Os pertences dos concorrentes estão guardados num contentor selado, que só será aberto quando estes cumprirem uns desafios e objetivos quaisquer, o que deve suceder nos intervalos das suas vidas normais já que, parece, vão continuar a ir trabalhar, às compras, etc. e tal, como se não estivessem num programa de televisão (nus).
Isto é tudo muito bonito – emociona-me este gesto humanitário da TVI – mas arrisco-me a dizer que se a estação estivesse de facto preocupada com a vida consumista que levamos podia fazer exatamente o mesmo programa sem que as pessoas tivessem de andar nuas. Era vesti-las com umas calças, camisola, casaquito e sapatilhas muito simples e baratas – nada de marcas, nada de cores, tudo numa onda sem-abrigo - e pronto, o efeito era exatamente o mesmo. Certo?
Errado. Porque nesse caso só ia olhar para aquilo uma mão cheia de totós preocupados com o estado do mundo e lá se iam os proveitos ditados pela estupidez do telespetador.
Numa época em que temos toda a informação à nossa disposição, em que podemos ver, ler e ouvir praticamente tudo, em que podemos procurar a causa das coisas, entristece-me verdadeiramente que nos limitemos a mastigar o que de mau nos dão, quais espetadores da CMTV da vida.
Somos uma sociedade mentalmente empobrecida e não consigo imaginar uma mudança de cenário, tampouco resolver a charada por-que-é-que-continuamos-a-fazer-isto-a-nós-próprios. E no meio de toda esta podridão, penso que essa dúvida é o que mais me fode consome.
2 comentários:
Não é com a minha audiência que vão lá, mas sim, tens razão, quando achamos que não se podia descer mais, eis que aparece um outro programa ainda pior que o anterior!
NÃO PODIA ESTAR MAIS DE ACORDO. HÁ POVINHO QUE SE PRESTA A TUDO POR 15 MINUTOS DE FAMA.
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