Nós, mulheres, gostamos de afirmar que não precisamos dos homens para nada, que conseguimos fazer tudo sozinhas (vá, que vos páre já esse pensamento que aqui o tema não é sexo).
Estou a falar daquelas tarefas caseiras tradicionalmente associadas aos homens como, por exemplo, os trabalhos de bricolagem ou o desentupimento de ralos.
Vivendo sozinha, não tenho outro remédio senão fazer coisas de que não gosto: ainda há dias tive que desentupir um cano e, embora isso só tenha implicado despejar meia garrafa de um líquido qualquer comprado no supermercado, seguido de água a ferver, pensei (uma vez mais) que não nasci para isto.
Claro que, se vivesse com alguém - do sexo masculino, entenda-se - fazia-lhe os meus melhores olhinhos, acompanhados de uma voz sussurrante e de um beicinho sorridente e a coisa ficava resolvida (sim, leitores do sexo masculino, nós usamos essa tática sempre que queremos que vocês façam alguma coisa e, na grande maioria dos casos, resulta).
Mas não, não vivo com ninguém (para além da gata Maria que, está fácil de ver, não me liga nenhuma) e, por isso, não há olhinhos nem sussuros nem beicinhos sorridentes que me valham.
Cada vez lido melhor com estas tarefas, já conseguindo limpar os vidros da parte de fora sem parecer um equilibrista com diarreia ou colocar quadros na parede sem ser na diagonal.
Mas há ainda uma pequenina coisa que, sendo verdadeiramente básica, me irrita de uma forma anormal. E esse 'pequeno' problema chama-se levar o lixo à rua.
As mulheres não gostam de levar o lixo à rua. Ponto.
É uma tarefa ingrata que devia ser sempre um homem a realizar. E não me perguntem porquê, que não sei explicar; o que sei é que sempre que o balde do lixo começa a ficar cheio, há uma espécie de urticária que desce em nós se não existir alguém que o possa levar.
E, como a vida não é fácil, uma mulher tem que aprender a viver com estas sucessivas urticárias que não nos fazem bem nenhum.
Um dia, se voltar a viver com alguém, obrigo-o a celebrar um contrato-promessa por escrito e sujeito a registo público, com uma cláusula única, qualquer coisa do género:
Eu, X, te recebo como companheira e te prometo transportar o lixo, ser-te fiel, amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias da nossa relação, até que o quer que seja nos separe.
Tenho dito.